A paz é fruto do Espírito Santo (Padre Léo, SCJ)



Talvez falte para nós, católicos, e para nós, padres, a coragem de falar o que a palavra de Deus fala. E quando se completaram os dias da purificação segundo a Lei de Moisés, levaram o menino à Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor, que todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor. Para tanto deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na lei do Senhor.

Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo chamado Simeão que esperava a consolação de Israel, e o Espírito do Senhor estava nele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina, que não morreria sem ver o ungido. Movido pelo Espírito foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprir as disposições da lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua promessa deixa teu servo ir em paz. Porque meus olhos virão a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos. Como luz para iluminar as nações, e para a glória de Israel teu povo.” 

O pai e a mãe ficaram admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe. “Este menino será causa e queda e de sofrimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição, e a ti uma espada transpassará a tua alma. E assim serão revelados os pensamentos de muitos corações.” (Luc 2, 22-35).

E podemos perceber pistas seguras, mais nenhuma delas fáceis, para que possamos viver do jeito de Maria, semeando a paz. E nesse Deus que é luz e quer iluminar todas as trevas da nossa vida, esse Deus que dissipa as trevas e que está iluminando os nossos olhos, para que possamos perceber a dimensão dessa paz que precisa atingir todas as áreas da nossa vida. Temos a palavra de Simeão. Aquele que chegou até a paz, isso ele mesmo falou no versículo 29. “Agora Senhor deixa teu servo ir em paz. Porque eu vi a tua Palavra realizada na minha vida.”

Para chegar a essa paz, Simeão deixou-se conduzir pelo Espírito Santo. “O Espírito do Senhor estava com ele”. E essa é uma das grandes condições para vivermos a paz. E já ouvimos muitas vezes que a paz é fruto do Espírito, ela é consequência da justiça, ela é consequência da nossa abertura do coração para Deus. Um dos frutos do Espírito é a paz (Gal 5,22a). E Jesus diz: “A paz que eu dou o mundo não pode dar.” Ela tem algo especial. Se nós queremos chegar a essa paz nós precisamos viver como Simeão. Sermos homens e mulheres que se deixam conduzir pelo Espírito Santo. Deixai-vos conduzir pelo Espírito, para que possais produzir os frutos do Espírito (Gal 5,16). 

Simeão deixou-se conduzir pelo Espírito e movido pelo Espírito ele está lá naquele momento para ver Jesus. Mas com certeza, muitas outras pessoas estavam naquele templo. E por que será que só esse senhor e depois também Ana, a profetiza filha de Fanuel poderão de fato fazer essa experiência de se encontrar com o Senhor? Porque ele e ela deixaram-se conduzir pelo Espírito Santo.

José e Maria estavam no templo para prestar um culto a Deus. Talvez fosse algo semelhante ao batismo. E isso acontecia com todas as pessoas da região, então era um dia que tinha muitas pessoas, mas só falam que esses dois se encontraram com o Senhor. E por que será que o Evangelho só fala desse senhor já em idade avançada, como que dizendo que já não tinha mais nada para esperar? Aqui nós vemos bem a diferença de idade e velhice. A pessoa pode ser idosa, mas não pode ser velha. Velho é trapo, é desprezado. No Céu não entra velho. “Eis que tudo se faz novo”. Velhice não é questão de idade, pois tem aí muitos jovens que são velhos. Envelhecidos no crack, na cocaína, na prostituição, no ódio. Você pode ter oitenta ou noventa anos e não ser velho. 

Abraão tinha mais de noventa anos quando foi pai. Moisés tinha oitenta anos quando começou a travessia do deserto com o povo de Deus. Simeão era um homem de uns noventa anos de idade, mas não era velho. Quando você diz que está ficando velho é triste, porque está começando a descer. Velhos e fracos vão todos para o inferno. O Céu é subida, e além de ser subida, Jesus diz que o caminho é estreito e cheio de pedras. Não é fácil ir para o Céu. E o que fez esse senhor não se tornar velho? Deixou-se conduzir pelo Espírito Santo. Nenhum de nós conseguirá viver esse projeto de vida semeando a paz se não deixar-nos guiar pelo Espírito Santo de Deus.

Se o Pai escolheu o Espírito para guiar Jesus, se quem guiou Maria foi o Espírito Santo... Quem guiou São Francisco e o transformou nesse santo que revolucionou e revoluciona a face da Terra foi o Espírito Santo. Não existe nenhum santo na história que tenha se tornado santo que não tenha sido guiado pelo Espírito Santo. Hoje se fala tanto no esforço pela paz. Paz não é não se perturbar, não é acomodação, paz é se inquietar.

Havia uma moça que tinha o vício de roer unha. Um dia ela estava em uma festinha com sua colega, a festa com muita gente e ela lá roendo unha. Porque a pessoa que tem o hábito de roer unhas esconde, mas sempre dá um jeito de roer. Uma amiga lhe disse:

- Que coisa feia você está sempre a roer unha!

- Mas você também roia unha!

- Oh, olhe as minhas unhas!

- Como você conseguiu parar?

- Ioga.

- Ioga?

- Lembra como eu era nervosa, agitada, não tinha paz? Roer unha é manifestação da ansiedade. Mas agora eu aprendi o autocontrole. Faz ioga também.

- Será que resolve?

Comigo resolveu.

Aí ela foi fazer ioga. Depois de seis meses elas se encontraram, a primeira coisa da amiga foi olhar na mão dela.

- Oh! São de verdade essas unhas? Não são postiças?

- Não! São verdadeiras. Eu fui fazer ioga e foi uma maravilha. Depois que eu fiz ioga eu consigo roer a unha do pé.

A paz que o mundo dá é assim: é treinar ioga para deixar de roer a unha da mão para roer a unha do pé.

Paz não é apatia. Paz não é essa indiferença. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo jamais é indiferente. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo não pode ficar na maior paz vendo o sofrimento de alguém. Quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo vai arregaçar as mangas e fazer alguma coisa, vai trabalhar. Semear a paz é no trabalho, é no dia a dia. Mas isso exige muito mais do que treinamento de expiração e inspiração. Muito mais do que sentar no calcanhar e do que aprender a roer a unha do pé para não roer a unha da mão. A paz é uma experiência que nos leva a uma grande transformação. E essa transformação, segundo Simeão, vem nos mostrar um jeito de enxergar a vida.

A palavra de Deus nos questiona a perceber como estamos olhando a vida. “Meus olhos viram a tua salvação.” Por que eu tenho paz? Porque eu deixei-me conduzir pelo Espírito Santo. E deixando-me conduzir pelo Espírito Santo, eu pude enxergar a salvação na pessoa de Jesus. Que coisa linda! 

São Simeão abençoou Nossa Senhora e São José. Está claro isso, no versículo 34. “Simeão os abençoou.” Só alguém muito cheio do Espírito Santo para poder abençoar Nossa Senhora. E por que tantas pessoas já fizeram muitas experiências e que não transformou a sua vida? Porque só quem viu o Senhor pode dizer que teve uma experiência que transformou a sua vida, porque passa a ver a vida com novo jeito. Mas quem não vê o Senhor, não se deixa conduzir pelo Espírito e não experimenta a paz, e que não vive os sacramentos, acaba sendo uma pessoa cega. Mas São João também nos diz que quem odeia seu irmão está nas trevas, caminha nas trevas e não sabe aonde vai, porque as trevas ofuscaram os seus olhos. Então precisamos olhar nesse roteiro de vida. E só podemos fazer isso se observarmos os mandamentos de Deus. Será que eu posso dizer como aquele jovem rico, que eu observo todos os mandamentos desde a minha infância?

Quem diz que conhece a Deus, que experimenta Jesus e quem diz que é renovado e que já teve um encontro pessoal com Jesus, mas não observa os mandamentos de Deus, é mentiroso. E quem é o pai da mentira? Ele quer que você faça a mentira e viva na mentira. Grandes ou pequenas, mentiras são mentiras, não tem tamanho. E o encardido trabalha assim, sempre escondido. E geralmente ele se esconde através de muitas pessoas que se dizem cristãs renovadas. Mas naquele que guarda a Palavra, o amor de Deus é plenamente realizado.

Talvez falte para nós, católicos, e para nós, padres, a coragem de falar o que a palavra de Deus fala. E a palavra de Deus diz muito claro que nós podemos ter uma experiência plena de Deus. Que nós podemos experimentar o amor de Deus na sua plenitude. “Naquele que guarda a sua Palavra o amor de Deus é plenamente realizado.” E sabe porque ficamos inventando desculpas dizendo que nesse mundo não conseguimos fazer uma experiência de Deus plenamente? Se não fizermos aqui, não faremos depois da morte, é continuação. 

Essa é uma das mentiras do encardido quando ele diz que podemos mudar o nosso destino depois da morte. É um dogma da fé católica que depois da morte não muda nada. Por que nós rezamos pelas almas que estão no purgatório? Porque elas não podem fazer nada mais por si mesmas. Nós não temos duas vidas: uma para errar e outra para corrigir. A vida é única! Não existe reencarnação.

Nessa vida eu posso experimentar a plenitude do amor de Deus. O que o anjo falou para Maria? Maria é feliz porque ela é plena, cheia de graça, cheia do amor de Deus. E esse tem que ser nosso grande objetivo. Porque, do contrário, vamos nos apequenando.

As pessoas velhas e a pessoas fracas não têm mais projeto, por isso vão ficando no saudosismo, vão se conformando com a vida, vão se acostumando com as coisas no mesmo lugar... Para viajar têm que levar o travesseiro debaixo do braço. E como é que querem ir para o Céu? É o comodismo tomando conta. Tem pessoa que vai à igreja e se não tiver o lugarzinho de sempre para sentar vai embora ou não consegue prestar atenção na missa. Quando o demônio encontra as pessoas medíocres, ele aplaude porque ele vai tornando a pessoa cada dia menor. Muitos jovens estão sendo treinados para ser um eterno derrotado. 

Estamos criando uma raça de gente fraca. Uma juventude fraca. Você prenderia um Pitbull com um barbante? Eu não prenderia. Certa vez, alguém me perguntou que bicho é que tem quatro patas e um braço na boca? É o Pitbull, ele arranca o braço da pessoa e vem correndo. Se você ganhasse um Pitbull e pudesse segurá-lo somente com um barbante, você o levaria para a sua casa? Você não levaria porque ele é forte. E como é que um jovem se amarra com uma camisinha? Como é que se amarra com um cigarrinho? Como é que se amarra com uma cervejinha? Ou com um pacotinho de maconha? Tudo no diminutivo. É uma raça de gente fraca demais! Gente fraca não pode experimentar essa plenitude do amor de Deus. Naquele que é cheio dessa graça que se abre ao Espírito Santo, o amor de Deus é plenamente realizado. Naquele que guarda a palavra, o amor de Deus é plenamente realizado. Com isso sabemos que estamos em Deus. E quem diz que permanece em Deus deve pessoalmente caminhar como Jesus caminhou.

Padre Zezinho em uma de suas músicas fala muito bem disso quando canta: “Amar como Jesus amou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, sorrir como Jesus sorria”. Você vive esse critério? Eu não vivo. Eu tento, e quem me conhece sabe bem. Mas amar como Jesus amou não é para qualquer um não. Jesus não desejava estar lá na cruz, mas Ele viveu a vontade de Deus. E lá na cruz Ele disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Quando a gente vê alguém morrer dentro da própria casa com um tiro... Quando você leva uma paulada por uma fofoca ou por uma calúnia. 

Eu não entendo como tem gente que tem prazer em falar da vida alheia ou destruir a comunidade. Será que aí conseguimos dizer: “Pai perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. A nossa primeira reação é dizer: “Mas a pessoa sabia o que estava fazendo!” Amar como Jesus amou não é fácil. Perdoar até aqueles que estavam cuspindo nele, jogando pedradas injustamente.

Ser cristão é para gente forte. Fraco nunca será cristão, porque Jesus veio nos mostrar um caminho que não é fácil, porque passa pela cruz. A paz passa pela cruz. Não podemos nos encher de entusiasmo achando que tudo vai ser uma maravilha e que eu vou sair por aí semeando paz. É muito fácil louvar ao Senhor quando as coisas estão indo bem. Mas na hora de um problema e nas dificuldades do dia a dia, se eu não tiver um grande motivo, eu não vou conseguir. Amar como Jesus amou para eu viver nessa paz. A primeira coisa a fazer é não se defender nunca. 

Você quer deixar-se conduzir pelo Espírito Santo pra valer? Você quer ser cheio do Espírito Santo? Não se defenda nunca. Nós já temos um defensor que é Jesus e outro defensor que é o Espírito Santo. Mesmo se você for acusado injustamente, não adianta se defender. Quem acredita em você acredita pelos frutos que a sua vida dá. Não é o que as pessoas falam da nossa vida que nos transforma naquilo que a pessoa diz.

Em uma cidade tinha um mosteiro onde vivia um monge muito santo. A fama desse monge se espalhou por toda aquela região. Um grande pregador, homem de Deus, tinha o dom da cura e muitas pessoas iam paquela cidade (inclusive aquela cidade vivia economicamente em função daquele monge). Era uma cidade pequena, mas começaram a vir muitas pessoas que ficavam nos hotéis e pensões para ir falar com o monge que era o homem mais amado da cidade. Morava lá na colina, em um mosteiro muito simples e bonito, e lá ele vivia em sua horta e com suas flores, cultivava o mel de abelhas e atendia e rezava pelas pessoas que o procuravam.

Um dia a filha do prefeito (que era uma moça muito bonita) ficou grávida sendo solteira. Imagine a língua do povo! A filha do prefeito grávida! A grande pergunta era: quem era o pai? Ela não contou quem era o pai. Quando chegou a hora da criança nascer, depois de muita pressão dos pais, ela revelou dizendo que era filho do monge.

- Não é possível! O monge?

- Mas também essas moças vão lá com essas roupas indecentes. Ele é monge, mas é homem. Eu bem que desconfiava daquela cara de sem vergonha daquele monge! Eu sempre falei que eu não vou à igreja por causa dessas coisas.

Foi um escândalo na cidade. Aí a criança nasceu e então o prefeito convocou o secretariado (e mais os puxa sacos) e foram em procissão, bateram o sino do convento, e quando o monge saiu, pegaram o monge.

- Seu safado, sem vergonha, você sujou o nosso nome, envergonhou a nossa cidade! É só o que falam nos jornais. Se você é homem, pelo menos agora assuma! Cria o moleque que é seu. Ele pegou aquela criança no colo, deu um beijo na testa, abaixou a cabeça com os olhos cheios de lágrimas disse: “Está bem.” Fechou a porta e foi fazendo a sua horta, cuidando do menino. Tirava leite das cabras, dava mamadeira para o bebê. O menino foi crescendo bonitinho! Ele ia para a cidade, o menino ia andando com ele. A moça, filha do prefeito, que não ganhou a reeleição, porque não tinha a bênção do monge, ficava na janela olhando aquele menino. Até que certo dia, ela não aguentou mais, chamou a família e disse:

- Eu tenho que falar uma verdade, pois eu menti sobre o menino. O pai não é o monge. O pai é fulano...

O pai era um milionário da cidade. E agora? O pai da moça, ex-prefeito, reuniu os amigos e reconheceu que tinha agido errado. Resolveu então ir pedir desculpas para o monge. Convidou todos a fazer um ato de desagravo, a pedir perdão publicamente para aquele monge. Até uma estátua resolveu fazer para aquele homem.

Foram novamente em procissão, e a moça foi junto para pedir o filho de volta, pois ela não aguentava mais ficar sem o filho. Abriu a porta do mosteiro e todos ajoelhados pediram perdão e a criança para a moça levar. O monge deu um beijo na testa da criança e novamente com os olhos cheios de lágrimas disse: “Está bem!”. E entrou para o convento.

Adiantava falar alguma coisa? Quem iria acreditar que não era ele o pai? Uma mentira contada por muita gente parece ser uma verdade. Mas o tempo é o senhor da razão. Aquele que é de Deus não precisa ter medo de comentários, e isso aconteceu até com Jesus. Não faz muito tempo fizeram um filme contra Nossa Senhora, e um outro filme contra Jesus dizendo que ele era amante de Maria Madalena. Faz mais de dois mil anos que a história está falando mal dele. Faz mais de dois mil anos que Jesus está sendo crucificado, mas não somente porque falam mal dele. Jesus Cristo é crucificado cada vez que nós falamos mal, criticamos e não amamos o menor de nossos irmãos, pois Ele mesmo disse: “Tudo aquilo que fizerdes ao menor de meus irmãos é para mim que fazeis”.

A pessoa que não vive essa plenitude do amor de Deus, a pessoa que não se deixa conduzir pelo Espírito Santo, não experimenta o amor de Deus plenamente realizado em sua vida, não está em Deus. O que é que significa estar em Deus? O que é que significa viver essa paz? Significa comportar-se diferente, caminhar como Jesus caminhou. E Jesus jamais teve uma palavra de julgamento para quem quer que seja. Jesus jamais aproveitou a fraqueza de qualquer pessoa. Jesus jamais jogou na cara de nenhuma pessoa os seus defeitos. Por quê? Porque Ele não via as pessoas com os olhos do mundo. 

É muito fácil você gostar de quem gosta de você. Mas o cristão vive a paz com aquele que não merece ser amado. O nosso Deus é um Deus que nos ama e que muitas vezes não merecemos ser amados, mesmo não merecendo, Deus nos ama com amor infinito o tempo todo.

A consciência da nossa fraqueza e da nossa miséria não deve levar-nos a entrar em uma atitude de um arrependimento mentiroso ou de um remorso mentiroso. A consciência do meu pecado que eleva ainda mais a grandeza do amor de Deus tem que me comprometer a amar verdadeiramente as pessoas. E amar as pessoas não porque elas mereçam ser amadas. Amar as pessoas quando elas não têm mais nada para nos dar. Aí é amor! O amor começa quando acabam as outras coisas, quando não existem mais atrativos humanos. “Eu amo aquela pessoa porque ela me faz feliz”. Então você não ama aquela pessoa, você se ama na pessoa. Isso é egoísmo! Se você ama porque precisa da pessoa, então não é amor. Você só usa muleta se estiver com a perna machucada.

Amar é gastar-se para fazer o outro feliz. E gastar a sua vida para fazer o outro que não merece. Mas o mundo vive de resultados. Isso eu vejo pelas pessoas que me ajudam na comunidade. Pessoas que fazem doações, por exemplo, já que a nossa comunidade vive única e exclusivamente de doações. Tem pessoas, que só porque ajudam com algumas coisas de vez em quando perguntam: “Quantos já foram recuperados?”. Todos, ou nenhum. Ninguém pode dizer que está recuperado. São Paulo disse: “Quem está de pé cuide para não cair”.

Bethânia não é casa de recuperação. Bethânia é casa para restauração. E o que é restaurar? Restaurar é fazer novo de novo. Restaurar é ir deixando Deus tirar o que não presta da nossa vida.
Então todos em Bethânia estão recuperados, pois se acolhemos cada um que chega e procuramos assumi-los no amor, então é cem por cento. Quantos que o padre Roberto acolhe na Toca? Quantos que ele recupera? Todos. Nós temos que acreditar que se nós fizemos a nossa parte, Deus é fiel e fará a parte dele.

Deixe o Espírito Santo defender você se quer viver na paz. E se quer deixar o Espírito Santo conduzir você? Então não se defenda. Se você precisa se defender é sinal que você não está sereno naquilo que faz e não está sereno naquilo que vive. Você vive para Jesus? Então tenha coragem de se expor por Ele, pois Ele se expôs por você e por mim. Ele foi capaz de ir ao extremo.

Deus pega o pecado, e com a matéria do pecado Ele nos dá a salvação. Por isso, se eu quero ser um homem de Deus, eu tenho que me deixar conduzir pelo Espírito Santo. E para deixar-me conduzir pelo Espírito Santo, não posso me defender. “Mas, padre, quem não se defende é fraco!” Ora, e o que São Paulo falou aos Romanos capítulo 8,26-27? “O Espírito Santo vem em auxilio a nossa fraqueza”. Essa é a fraqueza que é força, não essa fraqueza do mundo que nos amarra com coisas pequenas. A fraqueza que Deus quer de nós é uma fraqueza que nos transforma em coisa grande, em gente grande. É o exercício do perdão cotidiano. É amar quem não merece ser amado. Sabe quando você pode dizer que ama alguém? Quando você tiver absoluta certeza que essa pessoa não merece ser amada.

Há algum tempo, quando eu era fráter em Taubaté, e fazia teologia, toda segunda-feira eu ia aos Correios um pouco antes do almoço buscar a correspondência. A avenida principal, para chegar ao Conventinho, deve ter uns dois quilômetros... E perto do  Conventinho está a Casa de Detenção, onde ficavam os criminosos mais sérios do Estado de São Paulo e do Brasil. Os grandes bandidos eram levados para lá. 

Em uma segunda-feira, num calor muito intenso, o sol estava bastante quente,  quando eu vou do “Conventão” para entrar naquela avenida, eu vejo uma senhora muito simples, com o cabelo amarrado, um vestido bastante simples e com um embrulho embaixo do braço pedindo carona. Eu dei carona para aquela senhora e falei que iria só até o Conventinho. Ela falou:

- Oh, meu filho! Eu vou só até a Casa de Custódia.

- A senhora vai fazer uma visita?

- É meu menino.

Quase que eu pergunto se ele trabalhava lá, porque eu sabia que quem ficava preso lá eram somente os criminosos de crimes hediondos, crimes bárbaros.

- É meu menino. Ele fez umas bobagens. Eu sou lá de Araraquara, mas colocaram-no aí e ele não consegue comer a comida da cadeia, então eu comprei uma casinha aqui perto do mercado e todo dia eu faço uma comida e levo para ele.

Naquele dia, quando eu deixei aquela senhora na porta da penitenciária, fui para casa, no meu coração dizendo: “Hoje eu vi Deus!”. Isso é amor. O que será que esse menino (que não era menino), pela idade dela, ele devia ter uns quarenta anos e devia ter cometido um crime bárbaro, um crime medonho. Aos olhos do mundo ele foi condenado e a justiça disse que ele devia ser preso em uma prisão de segurança máxima. Mas para a mãe ele era um menino. Um menino que precisava se alimentar. E não é isso que Deus faz comigo e com você em cada Eucaristia? Quando Ele vem fazer a nossa comida, Ele se transforma em comida! É muito mais que essa mãe que fez a comida. Deus se faz comida para nos alimentar, entra em nós porque Ele nos vê por dentro. Ele não nos julga pela aparência. Ele não leva em conta o que as pessoas falam ou deixam de falar. Ele sabe que nós somos fracos, mas que nele nós somos mais que vencedores, nele nós podemos ser fortes. Essa fraqueza vira força, e essa força transforma o mundo porque é a longo prazo.

Em Assis, a Basílica de São Francisco é em cima de um morro. Assis é uma cidade em dois níveis: lá em cima tem uma montanha e em cima daquela montanha tem uma pirambeira, uma grota de pedra muito profunda. Todos os criminosos que tinham que ser condenados eram jogados lá de cima, e ali chamava-se a Grota do Inferno. Um dia São Francisco fez os seus irmãos jurarem que ele seria sepultado naquela grota no dia que ele morresse. Porque ele dizia que se existia no mundo alguém que merecia ser jogado lá dentro seria ele.

Os irmãos haviam prometido, talvez achassem que ele não iria morrer tão cedo, pois era ainda muito novo. Tiveram que cavar um buraco de seis metros na rocha e colocaram o corpo dele dentro da rocha. A urna dele também foi feita de pedra. Colocaram no buraco da rocha, depois socaram pedra por cima para que ninguém roubasse o seu corpo.

Na semana seguinte o papa mandou vir de Roma um emissário para comprar aquele terreno que era o Buraco do Inferno, tornou-se propriedade da Igreja Católica Apostólica Romana. Aquele pedacinho chamado Buraco do Inferno, a partir daquele corpo frágil, ferido, chagado do pobrezinho de Assis, se transformou em um pedaço do Céu, porque ali jorra cura, libertação e paz para o mundo. Não só durante os quarenta e quatro anos da vida daquele menino de Assis. Mas depois de mais de oitocentos anos está lá e o papa se reuniu com os líderes do mundo inteiro em cima do túmulo daquele homem frágil, ferido e machucado, porque ele teve a coragem de acreditar na paz, e mais do que isso, pedir a Deus que fizesse dele instrumento da sua paz.

Cuidado com o que você pede nas orações, pois Deus leva a sério. E levou tão a sério a oração de Francisco, que oitocentos anos depois o mundo vai de novo rezar em cima daquele que pediu para ser instrumento da paz de Deus. Esse viveu o Evangelho, e é isso que nós queremos pedir ao Senhor também. Que essa palavra seja tão forte e tão real em nossa vida, para que sejamos instrumentos dessa paz no mundo que tanto necessita. Para o mundo das guerras, do desamor. Para as famílias estragadas pelo pecado e pelo egoísmo. 

Que sejamos Senhor instrumento de tua paz, e possamos levar o amor, a alegria, o perdão e a misericórdia. Pois nós cremos em um Deus que caminha conosco, em um Deus que nos ama e nos convida a sermos instrumentos da sua paz no mundo. 
 

Obs: transcrição fiel ao original de palestra realizada na Com. Canção Nova
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2 comentários:

  1. Ao final dessa pregação o padre nos conta a história da senhora idosa, a quem ele deu carona, que ia todos os dias levar comida para o seu filho na prisão (Casa de Custódia de Taubaté). Essa experiência o marcou tanto que também partilha conosco em seu livro:'' Experienciar milagres''. O padre usa desse exemplo para nos dizer do ''amor materno de Deus por nós''.
    É lindo quando ele relaciona o amor de Deus ao amor de mãe.
    Algumas frases fortes:''Amar é gestar a vida'',''Amar é cuidar'', ''E mãe, além de gestar,amamenta,cuida, cultiva...''

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