O texto abaixo foi publicado originalmente hoje, 02.01.2012, no site da Comunidade Bethânia.
"Nós não somos daqui, meu filho, estamos aqui de passagem. Eu e você somos cidadãos do céu, o HIV na sua vida foi um acidente de percurso..."
De: o mais gentil dos Josés
Assunto: a cura do medo à beira da lagoa...
Para: padreleo@ceuhotmail.com
Puxa!... Pai querido,
Parece que foi ontem, mas já faz cinco anos que o senhor partiu para a eternidade, né?... E... Lembro como se fosse hoje, sabe pai?... Que naquele 04 de janeiro de 2007 eu estava morando no recanto de Curitiba. Estava eu e os Consagrados sentados em volta da mesa e rezando (isso porque horas antes, o Ideraldo tinha ligado e pedido para intensificar as orações porque o senhor tinha piorado), Quando... O celular tocou. Entreolhamos-nos uns para os outros até que um Consagrado atendeu. Ah! Pai querido, os segundos seguintes demoraram a passar. Então o telefone foi colocado no viva voz e escutamos o Ideraldo com a voz embargada nos dizendo entre um soluço e outro “o Léo partiu, meninos... O Léo nos deixou...”...
Abraçamos-nos ali, choramos... Choramos... Depois, assim... Espontaneamente começamos cada um lembrar-se de cada momento que tínhamos passado contigo, cada acontecimento, missas, formações... Partilhas, confissões... Piadas... Lembro que depois daquele momento de partilha eu saí, e fui sentar-me embaixo de uma grande araucária à beira da lagoa e fiquei ali... Horas a fio, olhando para os gansos deslizar na água. De repente... Sabe pai... Deixei-me levar por uma suave brisa que me deslocou até àquela manhã:
É... Naquela manhã o senhor estava andando em volta da lagoa de São João Batista com as mãos para trás seguido (como sempre) pelo quinzinho, pelo chuvisco e companhia. Então eu lhe alcancei, e ainda ofegante falei: “pai... Preciso falar com o senhor” e acrescentei timidamente “o senhor tem um tempinho para Mim?”.
Recordo que o senhor deu uma paradinha estratégica, e estatelando seus olhões azuis nos meus disse ternamente: “o meu tempo é todo seu... Meu filho”.Começamos então a andar. Eu estava muito mal naquela manhã... Lembra?... Por ser soropositivo, eu estava com a imunidade muito baixa (adoecendo muito), e como se não bastasse sofria com uma infecção urinária que não queria sarar. Com princípio de depressão, e sem ver muita coisa no fim do túnel eu lhe alcancei naquela manhã e a certa altura da nossa conversa eu disse: “não tem jeito, pai. Eu tenho pedido muito a Deus pela cura do HIV... Mas... Ela não vem”...
Ah! Pai querido, minha voz embargou de tal maneira que não pude continuar, então andamos mais um pouco em silencio, e então emparelhando comigo o senhor chocou levemente o seu ombro no meu, assim... Brincando mesmo para me animar e disse: “pare meu filho! Pare de pedir a cura do seu HIV”. Eu não entendi nada naquele momento e por isso exclamei: “Mas pai... A cura do HIV é tudo o que eu preciso!”... Lembro que naquele momento o senhor parou, olhou bem no fundo dos meus olhos e disse de um jeito até um pouco ríspido, “meu filho, você não precisa da cura do HIV, o que você precisa é da cura do seu coração”.Um!... Continuei sem entender.
Mas, agora passando o seu braço sobre os meus ombros, o senhor continuou. “Nós não somos daqui, meu filho, estamos aqui de passagem. Eu e você somos cidadãos do céu, o HIV na sua vida foi um acidente de percurso... Mas você não é isso e muito menos se resume nisso”... Ah! Pai querido, o senhor não tem noção de como aquelas palavras iam me reconfortando, e era por isso que mesmo que eu as limpasse... Obstinadas, as lágrimas teimavam em querer rolar... Enquanto o senhor continuava: “portanto, filho, tire os seus olhos do HIV...
Eu convido você a viver, e viver plenamente. Siga tudo o que o médico lhe mandar fazer, tudo... Tudo... Tudo, e... Faça esporte, sonhe... Estabeleça metas para sua vida, se arrume, fique bonito... Sobretudo, quando você for comungar não peça que Jesus cure o HIV, mas que Jesus cure o seu coração, peça que Jesus cure os seus medos, os seus traumas”...
Nesse ponto, o senhor parou uma vez mais, e agora sim... Os seus olhos de pai fixaram-se demoradamente nos meus, porque era preciso alcançar o meu coração, para finalizar:...“porque se você tiver o seu coração curado, meu filho, o que será desse HIV Zinho que você tem aí? O que será dessa aidizinha?... Nada, nada, nada... Repito, o HIV é apenas um acidente de percurso, mais Jesus é tudo na sua vida”.
Pois é!... Faz mais ou menos sete anos que tivemos essa conversa na beira da lagoa, e não precisa nem dizer os frutos que ela produziu. Né, pai?... Não tenho dúvidas nenhuma, que só pude ser o que sou hoje, Consagrado de Deus, pai do Patrick e pai em Bethânia, Celibatário, escritor, e o homem mais feliz de toda a terra, porque um dia, os seus olhões azuis tão acostumados com as multidões atreveram-se a pousar nos meus olhos assustados na beira da lagoa, para ajudar a curar o meu coração. E é por isso e por tantas outras, que o senhor está aí já a cinco anos, pertinho de Jesus, sabia?...
Te amo, pai querido...
jpiresbethania@hotmail.com
José Gentil Pires é consagrado da Comunidade Bethânia e escritor,
autor de "O Anjo do Celeiro".
Parabéns José, não pelas suas palavras, mas pela cura de seu coração. Seu texto deixa claro que a cura da doença de sua alma diminuiu a intensidade da doença de seu corpo. Seu depoimento é encantador e comovente. Deus está sempre conosco.
ResponderExcluirJosé Gentil. Parabens,. Deus sempre te abençõe. Voce hoje me fez chorar ao ler o seu e-mail. Queria muito ter podido receber um abraço deste anjo, mas não pude. Até hoje eu não consigo ver e ouvir a palestra Buscai as coisas do alto, sem chorar. Amo Pe. Leo, ele tem me ajudado muito com seus livros e palestras. Tem me guiado muito pois creio que ele é um grande intercessor junto de Maria e de toda Milicia Celeste. Um dia se Deus quizer irei conhecer Bethania. Lugar Santo, aonde um Santo Deixou seu rastro de Amor...
ResponderExcluir- Deus te abençõe.
Que linda história! Me fez ver o quanto somos muito mais do que todos esses sofrimentos dessa vida. Em Jesus somos mais que vencedores. Esse mundo não é nossa casa, apenas nossa embarcação. Um abraço!
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