E-mail ao Padre Léo 12



Em todos os E-mails que escrevo para o senhor, tenho falado muito nos seus “olhões azuis” que para mim estabeleciam limites...

De: o mais gentil dos Josés
Assunto: ruído dos meus sapatos na capela
Para: padreleo@ceuhotmail.com
Pois é, pai querido,
Em todos os E-mails que escrevo para o senhor, tenho falado muito nos seus “olhões azuis” que para mim estabeleciam limites, exortava, ensinava, fazia rir... Mas fazia chorar também... Seus olhos me diziam tudo.
Mas, para escrever sobre os seus olhões e o que eles significavam para mim, hoje vou lembrar um pouco da sua rigidez com o horário, né? (E... Permita-me perguntar: como o senhor está se “arrumando” ai no céu? Já que ai não se contabiliza tempo nem espaço de tempo?).
Bem, a verdade é que eu estou pra ver, pai querido, na face dessa terra, um homem tão exigente em questões de horário como o senhor, e... Bem, agora eu posso falar, que às vezes eu até pensava (só com meus botões, é claro) que o senhor até... Exagerava um pouco.
Lembro perfeitamente que nas missas o senhor já estava pronto, paramentado e sentado na cadeira do celebrante sempre dez minutos antes, e assim era em todo compromisso seu. É sabido, né pai querido, que a primeira dimensão que o dependente químico abandona é a responsabilidade com os compromissos, não respeita horários, tudo que começa não termina, e por isso não para em trabalho nenhum. O senhor então mantinha uma disciplina rígida com o senhor mesmo primeiramente, para mostrar para nós, que tínhamos relativizado esse aspecto tão importante da vida social... Que era possível mudar.
Ah!... Uma outra coisa que o senhor prezava muito, e que não abria mão por nada desse mundo, era o silêncio (foram muitas as suas pregações a respeito de silenciar para ouvir a voz de Deus), e... De uma maneira toda especial o silêncio na capela.
Pois bem, a cena era essa: o senhor sentado na cadeira do Celebrante, com os olhos fechados em profundo silêncio interior poucos minutos antes de começar a missa. A capela cheia de filhos fazendo um esforço danado também para ficarem em silêncio.
Não sei por que, naquele dia em particular eu atrasei com os trabalhos no galinheiro, e sabendo que era o senhor que ia celebrar tomei um banho apressado, me vesti e sai correndo ainda com os cabelos molhados (naquela época eu ainda os tinha), e aqui entra um detalhe importantíssimo, sabe pai... É que por aqueles dias eu tinha ganhado da providência um sapatênis novinho em folha (lindo de se ver), porém, ah! (não gosto nem de lembrar) Fazia muito barulho quando eu andava. E lá vou eu, correndo em direção à capela quase na hora da missa com aquele sapato barulhento, que “chupava” o chão e soltava a cada passo que eu dava, e esse estranho movimento era ouvido à distância.
Então, nessas condições e ainda arfando de cansado (porque vinha correndo) atingi o limiar da porta da capela. Ah! Pai querido... Detive-me ali na soleira da porta por alguns minutos, e só então percebi o barulho que eu vinha fazendo, porque na verdade, da capela já estavam me ouvindo há um bom tempo.
Fiquei ali, estarrecido, por alguns milésimos de segundos que para mim se transformaram na eternidade, e todos olhando para mim, porque literalmente eu e os meus sapatos tínhamos quebrado todo clima de oração, desconcentrando até mesmo os anjos do paraíso.
Mas a minha preocupação maior, um! Pai querido... Foi quando olhei para o senhor, e dei de cara com aqueles seus olhões azuis inflexíveis, exigentes e rigorosos olhando para mim. Um! Um! Um!... Mil coisas se passaram pela minha cabeça naquele momento, sabe pai?... Eu pensava comigo, hoje a homilia vai ser de “lascar”.
Olha pai, não vou lhe negar não, viu? Mas naquele momento a minha vontade era de dar meia volta e sumir dali com os meus sapatos barulhentos (afinal de contas era tudo por culpa deles). Então o senhor olhou bem para mim, primeiramente com um olhar severo, que mostrava bem a irascividade do momento (já tentei encontrar esse termo no dicionário e não achei. Mas foi o senhor que me ensinou), depois, pouco a pouco aquele olhar severo foi se transformando em surpresa, perplexidade, até se transformar em uma pequena nesga de sorriso quase imperceptível no canto de sua boca. Ufa!... Estou salvo, balbuciei limpando o suor da testa ao ver o senhor guardar os seus olhões de novo entre as pálpebras enquanto eu me dirigia para os fundos da capela.
Naquela homilia o senhor não deu uma palavra a respeito desse episódio, nada que pudesse ligar uma coisa com a outra, o senhor tinha definitivamente me perdoado pelo atraso estabanado.
Como não sentir saudades do senhor?...
Te amo, pai querido.
jpiresbethania@hotmail.com

José Gentil é consagrado da Comunidade Bethânia
e escritor, autor de "O Anjo do Celeiro" e "O Essencial é Invisível aos Olhos - A minha experiência pessoal com o Padre Léo".
* Texto publicado originalmente hoje no site da Comunidade Bethânia.




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9 comentários:

  1. Gostaria de ter podido ver de perto esses olhões azuis tb!... Pe Léo.. saudades..

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  2. que lindo...sempre quando ouço as palestras do Pe. Léo ou leio artigos falando sobre ele..fico emocionada!! Lindo viu!! Parabéns!
    Carolina Guzzo

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  3. Olá, "o mais gentil dos Josés"
    O e-mail de hoje é um relato, recheado de um "humor sério" que nos prende do começo ao fim, e ficamos imaginando cada cena.

    O ponto central desse texto está no fato de você demonstrar o seu amor, a sua admiração e sobretudo, um respeito absoluto pelo padre Léo, seu pai espiritual.

    Tenha a certeza de que "aqueles olhões azuis inflexíveis, exigentes e rigorosos" lá do Céu, estão olhando para você, intercedendo por você.
    Um abraço e a paz do Senhor!

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  4. Uma das coisas, que mais me toca e que me faz crer mais na palavra e no poder de Deus, e ouvir esse Homem Santo, Fiel e Amigo das coisas do alto. Cada história que é contada por vc, que viveu com ele, me dá um sentimentos de inveja," mais inveja boa", isso é se inveja pode ser boa, de não poder tido essa oportunidade de conviver com o Padre LEO. Ouvir falar dele é como se pudéssemos presenciar cada gesto, cada movimento, assim como ele nós transportava para a vivência do momento da Biblia no qual ele estava pregando, era com estar lá presenciando o fato sob a narrativa de um profundo conhecedor do assunto.
    Deus abençoe vc e a todos vcs.
    J.Carlos M. Guedes.

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  5. José Gentil!!Que lindo!!Vc consegue escrever de tal forma, que vamos vivenciando e "saboreando" o desenrolar do texto, junto com vc!!
    Quem me dera ter podido ver de perto, ainda que um único dia...esses lindos olhos azuis...
    Parabéns por mais esse email!!
    Stela Monteiro Nader

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  6. Olá, amigos do Padre Léo eterno,
    Passando para agradecer tantas palavras lindas de incentivo e confiança, agradecer também todo amor que vocês sentem pelo Padre Léo e por toda Comunidade Bethânia.
    Aguardem em breve meu novo livro, com ele vocês irão sorrir, chorar, gargalhar, se emocionar, aprender... Não vou dizer o título... Aguardem mais um "bucadinho".
    Beijos eternos...
    José Gentil, bth

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  7. Querido José Gentil,
    Nós é que agradecemos a você por essa ideia generosa que teve de escrever artigos em forma de emails ao Padre Léo e através deles partilhar com tanta gente as lições de sabedoria que aprendeu durante a convivência com ele. Aguardaremos com alegria o seu novo livro.
    Um grande abraço Bethânia,
    Márcia Alencar e equipe do Blog Padre Léo Eterno

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  8. O padre leo me ensinou tanta coisa, com ele eu conheci verdadeiramente Deus, eu amo o padre leo de todo meu coracao.Gosto muito dos seus e-mails, com eles agente conhece um pouco mais o padre leo e ve que ele era ainda mais especial do que imaginei.
    sonia dos santos
    sonia-santos76@hotmail.com

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  9. que lindo!!!!!!!! JOSÉ GENTIL me fez chorar porque meu pai LINDOLPHO COM SEUS OLHOS MUITO VERDES LINDO,É MUITO PARECIDO NAS ATITUDES COM O NOSSO PADRE LÉO,só lamento não ter vivido essa maravilha que tu descreve,como eu sinto uma vontade louca de abraçar ele,me dá á impressão que ao abraça-lo ficarei curada de todas as minhas dores espirituais,inclusive da morte do meu filho,que agora devem estarem juntos,é a maior delícia de quem teve o privilégio de conviver com esse homem santo,amo ele,suas fotos me acalmam e me conforta,eu só quero poder abracá-lo á ele e meus queridos que já estão junto de DEUS vou logo lá em SANTA CATARINA PRA PODER FICAR MAIS PERTO DELE,eu sei porque ele teve que ir embora tão cedo ,é que ele estava sendo adorado,amar ele sim adorar só JESUS.

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