De: o mais gentil dos Josés
Assunto: no galinheiro, deixe cair a máscara.
Para: padreleo@ceuhotmail.com
Pois bem, pai querido,
Hoje eu gostaria de lembrar aquele nosso encontro lá no galinheiro, lembra?... Não? Pois eu vou refrescar a sua memória.
É o seguinte, naquela época eu estava trabalhando no galinheiro (na verdade eu tinha dois turnos de trabalho, de manhã no galinheiro e a tarde na padaria) e a minha grande tristeza, é que o senhor nunca subia lá para ver o meu trabalho.
“Puxa vida!” Eu reclamava constantemente, “o pai visita todos os lugares do recanto, menos o galinheiro”. Essa era minha reclamação constante.
Mas uma bela manhã, estava eu lavando o corredor quando um vulto passou de uma baia para outra... Quem será?... Perguntei-me e fui ver. Ah! Pai querido, tal foi a minha surpresa quando vi que era o senhor se admirando com os pintinhos recém nascidos...
Muito bem, mas aqui eu preciso contar um detalhe importantíssimo nesse encontro, e sem ele não faz sentido algum.
É que por ter a imunidade muito baixa, meu médico tinha determinado que eu trabalhasse no galinheiro resguardado por uma máscara dessas usadas pelos médicos e enfermeiros, para evitar qualquer tipo de bactéria (muito comum naquele ambiente). Então, quando o senhor me viu mascarado... Ah! Deu uma sonora gargalhada e disse, assim, do nada: “você ainda não deixou cair a máscara, meu filho?”...
Ah! Pai querido, foi muito engraçado, viu?... Porque foi tudo muito natural, o senhor me olhou e logo se saiu com essa caindo na gargalhada.
É claro, que a máscara em Bethânia é muito significativa, e representa tudo aquilo de ruim que nós tentamos esconder.
Quando se está nas ruas, na drogadição e submundo, é comum o dependente se resguardar por trás de todo tipo de máscara. Surge daí os disfarces, as aparências enganosas, as mentiras, as dissimulações... E se tem um tema que o senhor pregou à exaustão, foi exatamente a questão das máscaras, foi ou não foi, pai querido?...
Socialmente falando, também sabemos que o mundo vive numa máscara violenta, né pai?... São pessoas querendo aparentar o que não tem, e o que é pior, muitas pessoas tentando aparentar o que não é.
Mascaram-se as relações, mascaram-se comportamentos, mascaram-se até mesmo a espiritualidade. O que é uma pena...
Olha, aquela foi uma manhã muito gostosa, sabe pai?... O senhor visitou todo o galinheiro, me deu algumas instruções, e elogiou o meu trabalho (aliás, elogiar era com o senhor mesmo).
Pouquíssimas vezes eu o tinha visto tão à vontade como naquela manhã, sabe pai?... E mostrou direitinho para mim que o senhor também entendia de galinha. Na saída, como não poderia deixar de ser, olhou bem para mim com aqueles seus olhões azuis e exclamou já com um sorriso escapando pelo canto da boca “meu filho... Tenha a coragem de deixar cair a máscara!”
Ai! Ai!... Como não sentir saudade desse tempo?
Beijos pai querido.
José Gentil Pires é consagrado da Comunidade Bethânia
e escritor, autor de "O Anjo do Celeiro".
Obs: Texto publicado originalmente ontem no site da Comunidade Bethânia.
Mas uma vêz quero agradecer ao José Gentil, por essa linda partilha de vida com o nosso saudoso Padre Léo. Eu conheci o José Gentil em 2007 quando visitei São João Batista, e nunca imaginei que ele fosse se transformar nesse grande escritor. Continue nos presenteando com seus lindos textos e nos ajudando a manter sempre acesa os ensinamentos do nosso saudoso Padre Léo.
ResponderExcluirAmanda Garcia F.
Campos - RJ